Chico Xavier (1910-2002) |
Ele contou-me que tinha o hábito, em Pedro Leopoldo, de visitar pessoas que ficavam em baixo de uma velha ponte numa estrada abandonada, e que ruíra. Iam ele, sua irmã Luísa e mais duas ou três pessoas muito pobres de sua comunidade. À medida que eles aumentavam a frequência de visitas, os necessitados foram se avolumando, e mal conseguiam víveres para o grupo, pois que os seus salários eram insuficientes, e todos eram pessoas de escassos recursos.
O esposo de Luísa, que era fiscal da prefeitura, recolhia, quando nas feiras-livres havia excedente, legumes e outros alimentos, que eram doados para distribuir anonimamente, nos sábados, à noite, aos necessitados da ponte. Houve, porém, um dia em que ele, Luísa e suas auxiliares não tinham absolutamente nada. Decidiram, então, não irem, pois aquela gente estava com fome e nada teriam para oferecer. Eles também estavam vivendo com extremas dificuldades. Foi quando apareceu-lhe o espírito do Dr. Bezerra de Menezes, que sugeriu colocassem alguns jarros com água, que ele iria magnetizá-los para serem distribuídas, havendo, ao menos, alguma coisa para dar. Ele assim o fez, e o Espírito benfeitor, utilizando-se do seu ectoplasma, bem como o das demais pessoas presentes, fluidificou o líquido. Esse adquiriu um suave perfume, e então o Chico tomou as moringas e, com suas amigas, após a reunião convencional do sábado, dirigiram-se à ponte. Quando lá chegaram encontraram umas 200 pessoas, entre crianças, adultos, enfermos em geral, pessoas com graves problemas espirituais, necessitados. "Lá vem o Chico, dona Luísa" - gritaram e ele, constrangido e angustiado, por ter levado apenas água (o povo nem sabia o que seria água magnetizada, fluidificada), pretendeu explicar a ocorrência.
Levantou-se e falou: "Meus irmãos, hoje nós não temos nada" e narrou a dificuldade. As pessoas ficaram logo ofendidas, tomando atitudes de desrespeito, e ele começou a chorar. Neste momento, uma das assistidas levantou-se e disse: “alto lá! Este homem e estas mulheres vêm sempre aqui nos ajudar, e hoje, que eles não têm nada para nos dar, cabe-nos dar-lhes alguma coisa. Vamos dar-lhes a nossa alegria, vamos cantar, vamos agradecer a Deus." Enquanto ela estava dizendo isso, apareceu um caminhão carregado, e alguém, lá de dentro, interrogou: "quem é Chico Xavier?" Quando ele atendeu, o motorista perguntou se ele se lembrava de um certo Dr. Fulano de Tal? Chico recordava-se de um certo senhor de grandes posses materiais que vivia em São Paulo, que um ano antes estivera em Pedro Leopoldo, e lhe contara o drama de que era objecto. Seu filho querido desencarnara, ele e a esposa estavam desesperados ainda não havia o denominado Correio de Luz, eram comunicações mais esporádicas e Chico compadeceu-se muito da angústia do casal. Durante a reunião, o filhinho veio trazido pelo Dr. Bezerra de Menezes e escreveu uma consoladora mensagem. Então o cavalheiro disse-lhe: "Um dia, Chico, eu hei-de retribuir-lhe de alguma forma. Mas como é que meu filho deu esta comunicação?" Chico explicou-lhe: "É natural esse fenómeno, graças ao venerando Espírito Dr. Bezerra de Menezes, que trouxe o jovem desencarnado para este fim", e deu-lhe uma ideia muito rápida do que eram as comunicações mediúnicas. O casal ficou muito grato ao Dr. Bezerra de Menezes, e repetiu que um dia haveria de retribuir a graça recebida. Foi quando o motorista lhe narrou: "Estou trazendo este caminhão de alimentos mandado pelo Sr. Fulano de Tal, que me deu o endereço do Centro onde deveria entregar a carga, mas tive um problema na estrada, e atrasei-me; quando cheguei, estava tudo fechado. Olhei para os lados e apareceu-me um senhor de idade com barbas brancas, e perguntou o que eu desejava. "Estou procurando o Sr. Chico Xavier"respondi."Pois olhe: dobre ali, vá até uma ponte caída, e diga que fui eu quem o orientou" respondeu-me."E qual o seu nome?" Indaguei, e ele respondeu "Bezerra de Menezes".
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